Computadores e tábletes
Há anos que os intérpretes usam computadores portáteis, nomeadamente em cabina, que lhes permitem aceder a documentos, a programas instalados (incluindo dicionários e outras ferramentas de referência) e à Internet, podendo assim fazer pesquisas em linha e comunicar rapidamente.
Nos últimos anos, os intérpretes também adotaram os tábletes. As vantagens para os intérpretes são óbvias: os tábletes são pequenos, leves e não ocupam muito espaço. Além disso, acabam com o problema do ruído associado aos computadores portáteis tradicionais, uma vez que não têm nem sistema de ventilação nem teclado incorporado. Por último, são dispositivos verdadeiramente móveis devido à autonomia das baterias.
Tendo em conta todos estes aspetos, os tábletes são muito adequados ao trabalho dos intérpretes, dentro e fora da cabina. Resumindo,
podem ser um instrumento fiável para a gestão da informação.
Conceber e adaptar as nossas ferramentas
É talvez por a interpretação ser um segmento de nicho que, já há algum tempo, os intérpretes têm um papel ativo na conceção e/ou adaptação das suas próprias ferramentas informáticas, sobretudo no domínio da gestão de glossários. Enquanto os tradutores e os terminólogos estão bastante bem servidos a nível da oferta de programas informáticos, os intérpretes só conseguiram ter à sua disposição ferramentas adequadas à atividade de interpretação quando começaram a colaborar com os programadores. Atualmente, existe uma grande variedade de aplicações informáticas centradas em diferentes aspetos do trabalho de interpretação, da preparação das reuniões a consultas rápidas em cabina, passando por tecnologias de ponta como o reconhecimento vocal e a extração terminológica. Algumas destas aplicações especializam-se em funcionalidades sociais e colaborativas.
Os intérpretes também estão envolvidos no trabalho em curso em várias plataformas comerciais
de interpretação à distância, que, uma vez mais, incidem em diferentes aspetos da comunicação multilingue em linha.
Novas tecnologias, novos modos
A utilização de novas tecnologias permitiu igualmente novas formas de interpretação, como a interpretação «consecutiva simultânea». Michele Ferrari, intérprete do SCIC, foi provavelmente o primeiro a desenvolver este novo modo híbrido na década de noventa, utilizando um PDA (Assistente Digital Pessoal) durante uma conferência de imprensa do então Comissário Neil Kinnock, em Itália. Neste modo de interpretação, o intérprete faz uma gravação áudio do discurso (utilizando um dispositivo móvel ou uma «caneta inteligente» com capacidade áudio), ao mesmo tempo que toma algumas notas, por exemplo, de números ou nomes. No momento de interpretar, o intérprete ouve a gravação e faz o que é essencialmente uma interpretação simultânea. Dependendo da tecnologia utilizada, o intérprete pode reproduzir mais rápida ou lentamente segmentos da gravação que sejam redundantes ou particularmente difíceis. Esta técnica, que é ativamente desenvolvida, ensinada e investigada por vários intérpretes, é especialmente interessante em situações altamente exigentes em termos de exatidão e grau de pormenor.
Recentemente, surgiu outro modo híbrido, denominado «Consecutiva a la vista» («Sight-Consec»), que também implica a recolha de notas e a gravação do discurso. A gravação é transferida em simultâneo para um sistema de reconhecimento vocal, podendo o intérprete utilizar a transcrição para fins de interpretação consecutiva ou de tradução direta à vista.
Formação de intérpretes
A tecnologia também invadiu a formação de intérpretes. Neste contexto, o aparecimento dos repositórios de discursos em linha é, talvez, a evolução mais significativa. Iniciativas como o repositório de discursos ou os vários canais vídeo em linha da Direção-Geral da Interpretação disponibilizam um vasto conjunto de material, que pode ser utilizado na sala de aula ou para fins de prática autónoma.
Outras iniciativas de intérpretes baseiam-se nos repositórios de discursos para, por exemplo, criar comunidades em linha onde profissionais e alunos podem comentar o trabalho dos outros e receber comentários sobre o seu próprio trabalho. Estas comunidades de prática, tanto em linha como fora de linha, suscitam um interesse crescente por parte de formadores e investigadores.
Por último, as soluções de videoconferência são utilizadas para melhorar ou mesmo substituir o ensino presencial («ensino semipresencial»), existindo mesmo um programa de mestrado em interpretação de conferência em que o primeiro ano se realiza exclusivamente em linha.
O «intérprete aumentado»
Um dos principais objetivos da digitalização é, sem dúvida, ajudar os intérpretes a concentrarem-se na interpretação, sem terem de procurar informação quando estão em cabina.
A associação dos três elementos a seguir descritos poderá permitir simplificar ainda mais a realização de determinadas tarefas complexas em cabina:
- o reconhecimento de voz, que permitirá converter as intervenções dos participantes em texto (transcrição) na língua original (se estiver interessado, participe na comunidade sobre este tema clicando aqui)
- o tratamento da transcrição para identificar termos, números e entidades citadas na língua de partida, utilizando instrumentos de extração terminológica
- a extração de glossários ou a tradução em tempo real dos termos equivalentes na língua ativa do intérprete